DIÁRIO DE UM
ALDEÃO
Aqui no
Vale, tudo é calmo,
Tem apagão,
mas tudo é claro.
O povo rasga
o chão,
Com mãos
cheias de calo;
Seguem o
destino:
CRETINO!!!
A olhar os
que o avassalam,
Carregando-os
nos lombos, como cavalos.
Selvagens?
Quem me dera!
Que fossem
fortes e ousados
Contra o que
os dilacera!
Hoje a noite
não tem fogueira,
O Coronel
não está para brincadeira.
Tem gente
acordado
Vendo onde o
RIO deságua.
Isso é
perigo! Não é brincadeira!
Vá que um
simples aldeão
Aventure-se
a contar histórias
E acabe com
esses dias de glória!
Cale-se,
aldeão!
O Coronel
não está para brincadeira,
Até seu
jagunço predileto
Pode se
queimar nessa fogueira.
E a Maria
Bonita, então?
Pense nela,
aldeão!
Está no
escuro
Se retiram
do posto o seu Lampião!
Se uma gota
de excessiva vaidade
Lha apaga a
vela da ilusão...
Pense nela,
aldeão.
Quanto aos
famintos, não se preocupe...
O que pode
você fazer contra a situação?
Quando Deus
é quem recebe a culpa,
E o jagunço
distribui, na fila, o pão.
É um povo
feliz, aldeão!
Celebram a
miséria humana com suas vidas.
Lotam as
filas, que alegria!
E suas
filhas se prostituem a cada dia.
São mortos
honrados
Em placas
que dão nome as ruas,
Onde seus
entes sobrevivem anônimos,
Desabrigados,
de pele nua!
Mas não se
incomode com o povo
É raça
feliz!
Quando
discursam na praça,
Comem de
graça e pedem bis.
Fazem parte
da aldeia...
Acredite se
quiser!
Dão o sangue
de suas veias
Para serem
chamados de Zé.
E quando vem
o inverno,
Vem também a
festança.
Se a vida é
um inferno,
Todo mundo
dança!
Cachaça boa
faz mendigo ser rei
E o povo
brinda à igualdade que,
Onde está
não sei!
Acende a
fogueira,
Como honra
para os visitantes.
Dorme no sereno
e na poeira,
Cartão
postal para nossa estante.
Não se
preocupe aldeão,
Com o
desemprego, nem com a fome.
Não é
problema seu.
Isso depende
do “homem”
E da solução
que ele prometeu.
Além do mais
ele é “doutor”!
E você,
aldeão,
Só perdeu o
sono quando trovejou;
Temendo pela
sua palhoça.
Mas aqui o
vento é manso
E a chuva
veio salvar a roça.
Não se
preocupe aldeão
Havendo
calamidade,
A notícia se
espalhará pela cidade,
E o Coronel
usará de sua autoridade.
Agora, por
favor, adormeça;
Feche este
livro e esqueça.
Amanhã é dia
de trabalho, adormeça.
Porque se
sua carga ficar pela estrada,
O Coronel
pedirá sua cabeça.
Se sua
poesia despertar pela aldeia,
Haverá
tempestade para que ela escureça.
Fechando os
olhos, sinta o perfume da terra;
Terra fértil
do seu próprio chão.
Debaixo
dela, sementes;
Em cima,
corrupção.
Não adianta
esperar o brilho do sol.
O que
adiantaria a esperança,
A alforria,
A eleição?
Não se
incomode com o povo
É raça
feliz!
Quando
discursam na praça,
Não entendem
a desgraça;
Bebem cachaça,
E pedem bis.