sábado, 23 de novembro de 2013

Poe$ia

Poetas não têm relógios
Por isso são tolos
Tolos e livres
Dos limites e consequências do tempo.

Poetas não têm patrimônio
Senão sentimentos
Sentimentos sem sentido
Sem nenhum valor no mercado.

Poetas não se importam com um lugar ao sol
Se encantam somente com a lua
lunáticos por devoção
Em diferentes fases de solidão.

Poetas não fazem cálculos
Porque são um, sem par,
Em busca do inexistente,
De forma que nunca serão dois!

Poetas não têm limites
Dão crédito aos seus próprios sonhos
Juram amor eterno
E a este doam todos os seus dias.

Que vantagem há em ser poeta?
Dar-se a essa tola e vã filosofia?
Que vantagem há em nada ser?
Em nada ter, senão a poesia?

POETAS têm almas preciosas
Cuja sensibilidade não se pode contabilizar.
Belos, raros e efêmeros como as rosas
Seu breve e eterno momento
Consiste no verbo AMAR.
 


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

BICHO HOMEM

BICHO HOMEM

Filho da mãe natureza resolveu tornar-se órfão, julgando que crescera o suficiente para dominar a si mesmo e as outras espécies.
Interferiu na pureza do ar e das águas. Destruiu o verde que gerava a vida e pôs em risco sua própria existência.
Tão inteligente! Tão superior! A espécie humana desconhece seus pontos fracos.

Como os demais, precisa de ar, de água e de verde. Além disso, precisa de si mesmo e de outros da mesma espécie.
o bicho homem precisa se conhecer. Se reconhecer na irracionalidade de seus atos, quando se põe no patamar da existência tendo poderes para destruir e impotência para renovar.
O bicho homem precisa de si mesmo porque sua sabedoria, sua inteligência tão superior está em extinção.


Campos, Hyeda de Miranda. 19-03-2004

domingo, 20 de outubro de 2013

MURALHA

“Hoje eu desejo que as arvores durem mais
Porque aprendi o valor de um ninho”
(E queria ser a maior delas para te abrigar)
Mas eu sou muralha.
E quando você se recosta cansado
Não te envolvo.
Quando você me pede para seguir
Eu continuo edificada aqui no nada.
Como pode um amor assim?
Se a luz da vida projeta sua sombra sobre mim...
Abri então suas grandes asas e voai
Voai em sua infinita solidão
Escondei-me nas suas sombras
Acreditai que nosso amor foi colisão
Simplesmente olhai do céu para mim
Olhai e vede que uma estrutura assim
Sem semente nem raiz
Decompõe-se em canção
Pouse sobre mim agora
Cante
Ame
Durma
Antes que se vá mais uma estação
Antes que os pássaros fiquem quietos
E as folhas se lancem ao chão
Pouse sobre mim agora
Cante
Ame
Durma
Acaricie-me com suas doces asas
De um anjo em descanso após a batalha
Dá-me de seu sangue, de seu calor.
Voai depois em pensamento
Levai nas asas que cantam
E ao vento veloz espalha
Um frio poema de amor
Escrito em uma muralha.



LOVE SONG

Músico...
quando o silêncio devorador avançou por todos os espaços
pegou suas partituras e se pôs a produzir mágicos sons.
Músico...
que quando sentiu necessidade de salvar seu divino habitat do desastre da mudez foi à fonte das águas mágicas da música e bebeu sua doce essência.
Somadas aos seus mais profundos sentimentos essas gotas se tornaram canções e se espalharam como chuva fecunda entre nós.


Dá-me de beber e banhar
De afogar, mas nunca calar
De ensurdecer, enlouquecer,
Devanear
Chova torrentes
Ecoe tempestades
Ventania e notas musicais
Cantai pro meu silencio
Velai por meu poema mudo
E algum dia dançai comigo
Envolvei meu corpo no teu corpo abrigo
E me enterrai sonoramente
No teu peito, meu coração partido

Acolhida



Vinde oh Arte! 
Vinde a mim!

Vinde assim faminta como o vendaval!
Nao vinde branda, pois o banquete que te preparo sacia e devasta!
Sente-se a mesa, coberta de vãs lamentações
E sirva-se fartamente do que mais te alimenta:
Meus distúrbios e minhas emoções!
Brindai ainda as derrotas pelas quais chorei rios de lágrimas
e todas correntes... passaram.

E caso sobrevivas, celebre!

Porque a poesia prevalece e o amor ressurge quando profundamente enterrado.

SEGREDOS


SEGREDOS SÃO MEDOS
AQUILO QUE VOCE NUNCA DIZ
NUNCA DEIXA QUE SEJAM DESCOBERTOS.

SEU MEDO NÃO É NENHUM SEGREDO
SEU MEDO É QUE SAIBAM DO SEU MEDO
É QUE CONHEÇAM VOCE
QUE CONHEÇAM SEU SEGREDO.

É VOCE
SEU MEDO
E SEU SEGREDO.

II
MEU MEDO É NAO DIZER AGORA DO AMOR QUE TENHO
AINDA QUE NAO SEJA FORTE O SUFICIENTE PARA MUDAR O MUNDO
INQUIETA-ME E ME TRANSFORMA A CADA SEGUNDO

MEU MEDO É VER A VIDA PASSANDO SEM QUE EU POSSA TOCAR MEU DESEJO,
SEM QUE EU POSSA PROVAR, NUM BEIJO, O VALOR QUE A VIDA TEM.

DIGO E REPITO PARA QUE NAO SEJA MAIS SEGREDO
QUE HOJE E PARA SEMPRE
EM TODOS OS MEUS DIAS
VIVO E VIVEREI SEM MEDO E POR ESTE AMOR
TEMO E MORRO AO VER O PASSAR DOS DIAS
UMA INFINIDADE DELES:
CERTOS
ERRADOS
VIVIDOS
PASSADOS...
DIAS QUE SEM VOCE NAO TËM VALOR.


Galaxias



Esse olhar no espelho

De menina traquina
Olhar travesso
Esse doce sorriso em creme dental...
Ah! Eu já conheço!
Apressadamente se joga na noite
E em sua mesa constrói
Castelos de papel
Edifica poemas
Abre portais
Redesenha o céu

E vejo vir cometas
Lindas estrelas cadentes
Encantos diversos
De versos incandescentes

Poesia estelar
Intergalactica
Lunar
Poesia para o infinito
Infinito amor
Calor solar
Tudo em um só coração
Cosmos de emoção

E te deixo assim
Flutuante, viajante
Até que o sono te transporte...

Adormecida
Acolho você, minha vida
Envolvida em braços fortes

Seu perfume de quem ama
Se espalha em nossa cama
Poesia em frente e verso
E não há dimensão que comporte
Um simples explorador sem norte
Desejando todo seu universo.

Ciclos


Um ciclo aberto
Te priva da glória
Fechai-o pois.

Quando diante de todos
Ergueres tua taça de cristal
Para celebrar a vitória

Venenosas pupilas
Espelho dos olhos arregalados
Que revelam além de toda maquiagem
O véu da alma
Ainda imerso no esgoto do passado.



CAMPOS,Hyeda de Miranda
16 de setembro de 2013

Personagem perdida - Além do vento

Era uma família comum de encantadores.
Como toda família, os mais velhos eram mais sábios, e aos jovens pertencia o espírito de ousadia.
Eram fenomenais!
Pois todos os seres nascidos ali eram encantados.
Mas havia diferença entre um e outro encantamento.
Uma personagem que saíra das margens das histórias e descobrira as releituras dos livros mágicos.
Viveu breves anos de sonhos e fantasias.
Desprezou o encanto, saqueou os príncipes e desapareceu.
Reinou entre os mendigos da noite, com suas cançöes errantes e tristes.
E quando o chumbo tornou-se ouro, ela preferiu suas asas de volta.
Porque suas conquistas eram fruto da dor. Embora reluzissem, jamais pagariam o exílio do seu coraçao.

Do livro MESTRIA DO OLHAR
Pág. 43

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Mãos

Uma canção pode mover montes
Quando vem no vento pode trazer sementes.
Cordas de violão são linhas do horizonte
E em suas mãos tocam o coração da gente!


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Histórias


HISTÓRIAS



Num tempo muito distante...

Numa terra linda entre as montanhas...

Um Rio.

 

Nascer em Rio Vermelho

Vale do Jequitinhonha

Interior de Minas Gerais...

É ser predestinado a uma vida de muitas batalhas!

É ser privilegiado pelo umbigo enterrado

Nas tantas lendas contadas pelos nossos antepassados.

É saber acolher de braços abertos e sonhar com dias melhores.

 

Tomar banho de cachoeira

Ouvir o sino da Matriz

Reclamar da poeira

Festejar e ser feliz

 

Ser riovermelhense é

Conhecer como ninguém

O sabor do melhor queijo

E o poder da cachaça mais cobiçada

 

É encontrar-se no centro de BH

E gastar meia hora

Só perguntando pelas outras pessoas...

 

Ser riovermelhense é tudo isso!

 

É abrir os olhos pela manhã

Vendo diante de si

A maior fonte de inspiração para a vida.

 

Quando se está longe

É chorar de saudade

E se envolver em lembranças.

 

É desde cedo

Aprender a contar histórias

E delas construir a sua própria.

 

De página em página

Comemora-se agora 75 anos de emancipação política.

Parabéns Rio Vermelho!

domingo, 13 de janeiro de 2013

O jardim


O JARDIM

Como é doce estar se afogando

E assim sentir todas as coisas

Vindo à tona

A terrível dor

Que a gente mesmo inventa

No fundo do abismo

Que a gente mesmo cava

 

Oh Deus!

Esse jardim é um cemitério

Todos aqueles sonhos

Vão dar no mesmo precipício!

 

Quando me olho

Sinto saudade

Daquela garotinha que acreditava em tudo

E que morreu de frio

 

Abriu as asas na chuva fria

E viu as luzes do céu se apagando

Em um show que nunca mais se esqueceu

 

Ela se plantou nesse jardim

Morreu depois que caiu das nuvens

Seu cavalo alado não voa mais

O que lhe resta é a busca de um amor

 

E isso é tudo

Depois que ela mesma desapareceu.

 

( Rosa 1998 )


 

 

 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

REFLEXO - AVESSO DE MIM



Planejo ser o avesso do que sou

Floresço quando me seco

Emudeço quando posso sussurrar

E quando as feridas estão expostas

Eu bailo

Enquanto deveria me esconder

Retiro a máscara em meio à festa

Limpo a maquiagem antes da foto

E o sorriso

Que a mim não mais pertence

Ecoa

Como gargalhadas por entre as carpideiras imbecis

Que sobre o berço da recém-nascida poesia

Respiram e espalham as cinzas de Fênix.


Ave

Avesso de mim!
 
 
Texto integrante da XI Antologia Internacional Palavras no 3 Milênio - 2014