domingo, 11 de abril de 2021

Quando eu crescer... eu vou ou não ser



                                            Quando eu crescer, eu vou ou não ser

 

Não vou ser lavadeira

Porque não teremos mais rios

Nem pedras pra bater as roupas

E tampouco grama verde para estendê-las

 

Não vou ser tropeiro

Porque o tempo será curto para a rota traçada

Os automóveis chegarão

Com velocidade e cargas pesadas.

 

Não serei engraxate

Nem sapateiro

Porque os sapatos serão facilmente trocados

Baratos e comuns para o mundo inteiro!

 

Queria ser benzedeira,

Saber fazer remédio e oração

Mas quando cheguei para o mundo

A parteira que me trouxe logo se foi e não deu explicação

 

Certamente se foram com ela

A lavadeira, o tropeiro, o engraxate, o sapateiro

O mascate, a fiandeira e o leiteiro

 

E quanto mais eu cresço

Menos chance eu tenho de ser o que eu anseio

O eletrônico que desmonta o rádio

A telefonista que fala com o mundo inteiro

 

E no sonho da cidade grande

Seria ascensorista no elevador

Seria caixa no supermercado

Mas esse sonho também não vingou.

 

Os novos sonhos não me fascinam

Fascinante seria ainda ser doutor

Mas o doutor hoje trata dos softwares

Onde o homem perde para o computador

 

E os sonhos antigos para onde vão?

Perguntarei o meu amado professor

Aposentado, solitário

Aguardando a ordem do seu cuidador

Contando ao seu Walker talker

Lembranças  de um mundo de amor!