segunda-feira, 3 de abril de 2023

Amazônia

 


AMAZÔNIA

 

I - 2004

...Gritos de angústia e dor cruzavam a floresta acesa.

 

O vento uivava alimentando ainda mais as labaredas

Que se lançavam avante e acima

Lambendo a escuridão da noite e afagando o seio da terra.

 

Animais ardiam inocentes e seus espíritos agonizavam

Num clamor a Chico Mendes.

 

Chorai Amazônia!

Velai acesa a dor dos filhos seus!

 

II - 2022

 

O seio da terra, da mãe sem leite

Do bebê em pele e osso

Do mercúrio

Do descaso

Da ganância

Da negligência

Da vergonha

Da fome e da morte.

Encobertos

Ferida aberta em cortes!

 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Pôr do sol em Cinzas

 


                                      Pôr do sol em Cinzas

 

Tarde de quinta-feira

Da mesma semana

Do esplendor do carnaval

E da dor das cinzas

Que sobre nossas cabeças

Altera as nossas rotas

 

Rota

Rotatividade

Rotação

 

Mais uma volta que o planeta completa

Em torno de si mesmo

Para nos dar o dia e a noite...

 

Outra vez visito o lugar silencioso

De vento fresco

Com seu portão transcendental

Por onde entram, muitos dos nossos, para ficar.

Lá repousam

Enquanto choramos...

E o vento nos sopra consolo

Enquanto mistura nossos cabelos em nossas lágrimas

E nos abriga em ombros diversos.

 

Como dói esse inevitável ritual!

O morro

O vento

A pouca grama

As flores

As velas que não se aguentam por um segundo!

 

Atrasei para o ritual de hoje

Levei meu abraço

Sem a agonia do canto de reza

Dessa vez...

 

E muitas outras cravadas na memória

Ainda doem...

 

Como o sol que se inclina para detrás das montanhas

Os corpos estão agora debaixo da terra

Haverá noite

E o sol voltará em poucas horas.

 

São muitas as metáforas

Dentre elas o intervalo de dez horas

Entre a notícia e o ritual...

Dez horas que temos para rever

A fragilidade da vida humana

Coberta de simbólica cinza

Voltando ao pó da terra.

 

Tempo para despir-se de si mesmo

De vestir a dor do outro

De ser um raio de sol que atravessa a nuvem

Cinza...

 

Cinza está o coração bondoso da minha amiga

Como o meu também esteve

E de outra também amiga que perdeu irmãos

Amiga que perdeu pai

Amigo que perdeu mãe...

Há cinza cada vez que me lembro das amigas

Que não desceram de lá

Para as quais o sol não mais se pôs, nem nasceu.

 

Mas a terra que recebe, segue

Gira e nos concede

Dias e noites

Para que vivamos bem

Todas as nossas horas.

Horas que passam:

Hora que chega!

 

 

 

 

domingo, 5 de fevereiro de 2023

ILHA


ILHA

No palco recitava poesia

Ninguém a entendia

- E se ela cantasse?

- Pior seria!

 

Gostava de música

Aos músicos amava

Com eles sonhava

E jamais mudaria.

 

Porque de sonhos

E somente de sonhos

Vivia

Porque não tendo sonhos

Tinha dor

 Dor de parto e poesia.

 

Mãe de todos os poemas...

Quem dera!

Era madrasta

Bruxa má! Rainha bela!

Que a todos dava a conhecer a fórmula

A rede que tecia seus versos e sonhos

Era de corda de violão

Que por assim ser

Era um fio na alma

Outro no coração.

 

Um dia, menina, queria ser estrela

Mas precisaria brilhar e subir ao céu

Então pulou da escada imaginária

Caiu feio e acordou lua.

 

Lua

Única, feminina e de fases.

De faixas, de escalas e de frases...

Lua que em silêncio morre.

Nem sequer se encanta

Com sua imagem no mar infinito.

 

O canto do mar

É para sereias e marujos

Não para a lua.


Uma noite

A lua deitou-se na areia da praia

Para se esconder

Sem notar que nascera ali

Um tapete de luz...

E eram tantas formas

Quantas as ondas costumavam exibir

E a lua gostou da areia

 

Ouviu pela primeira vez o som

Que o vento fazia enquanto as moldava

E numa casa não tão longe

Um canto

 

A lua fez-se mulher

Na sua fase de escuridão

Para ver de perto o homem

Dono da voz e da canção

 

No seu corpo o cheiro das montanhas

Que a lua desde sempre, amava.

Seus cabelos cacheados

Lembravam as sombras projetadas

Quando ela , brincando, atravessava as folhas.

O homem tinha o sorriso de luz

Vindo do sol que enchia seu coração.

 

A lua deitou-se do lado de fora

Enquanto ele adormeceu

Sem nenhum sonho.

 

Pelo quarto muitos tesouros

Partituras, cabos, fones...

E no centro, um violão!

Sim!

As cordas que tecem as redes dos sonhos

E que sempre encontram mãos

A mão que o pega pelo braço

E faz nascer à canção.

 

A lua sentiu-se tão bem quanto no céu

Ao ler poesia naquelas canções.

Deitou-se ali quietinha e sorriu:

A lua abriu seu coração!

 

Então o homem abriu os olhos

E as janelas

E acendeu a luz...

 

A lua não esteve mais lá!

Nem na casa

Nem na areia

Nem no mar...

 

O homem voltou para as montanhas

E a lua do céu espera ouvi-lo cantar

Porque seu canto é de uma estrela

E nunca vai se apagar!

 

A lua viaja sempre por toda terra

E ouve cantos

E se maravilha

Desce, caminha, sonha e se emociona

E a este chamou de ilha

Porque nele não há caminhos

Embora seja estrada

E o tempo nas curvas do seu corpo

Opera de forma controlada

Enquanto sonha, se refaz...

Mas não crê em quase nada.

 

Não crê em sonhos

Não crê na lua

Não crê em histórias

Nem contos de fadas.

 

Não crê na poesia

Não fala com estranhos

Não mergulha na fonte

Nem bebe dessa água.

 

Seus desejos, nem a lua sabe.

A ninguém quis revelar

Fez- se ilha

Silenciosa

De um lado rio

Do outro, mar

No centro, ceticismo...

Medo de amar!

 

 

 

"UNIDOS POR UM SÓ SENTIMENTO"

     Aconteceu em 31-01 o aniversário da minha cidade.

    85 anos de emancipação política de Rio Vermelho!

    Em parceria com a amiga, vereadora e locutora Lourdes Lomba, fizemos um vídeo. Esse une meu poema autoral com as imagens também autorais feitas ao longo do trabalho de supervisão do Censo 2022.

    



 Unidos por um só sentimento

 

O sentimento que nos une é o amor

Amor que veio do berço, da mãe preta, da madrinha

Do batismo, da crisma...

Da água benta e do rio cor de café

Maduro, vermelho!

O sentimento que nos une, une gerações

Que se encontram na praça

Que conversam em rede

Que constroem o amanhã.

Rio Vermelho de coronéis e casarões

Do monopólio do sal à casa da democracia.

Rio Vermelho de Tanajura e Formigão

Que hoje comemoram juntos

85 anos de emancipação.

São belas suas montanhas

Suas matas, fauna e quedas d’água

Cenário maravilhoso!

Mas sua riqueza maior, Rio Vermelho,

É com certeza o seu povo!

Parabéns ao homem do campo

Que acorda cedo, com o cantar do galo!

Parabéns às mulheres que lidam na roça

Que encaminham para a escola seus filhos

Por caminhos difíceis, cheios de desafios!

Desafios enfrentam os professores diariamente

Para encher de luz a vida dessa gente!

 

Gente que se multiplicou e se espalhou pelo mundo

Vasto mundo que acolhe os filhos dessa terra!

Que garimpam diploma em Diamantina

Que no Serro sobem um degrau na educação

Filhos que vivem em São Paulo

Mas voltam aqui para alimentar o coração!

Ah! Filhos que vão para o exterior

Buscar crescimento e solução.

Nós que aqui ficamos enraizados e cheios de amor

Nessa data tão festiva

Agradecemos ao nosso Senhor

Nas manifestações de fé da nossa gente

Na simplicidade e no desejo ardente

De ver crescer nossa cidade

Ver brilhar nossa gente.

Rio Vermelho, hospitaleiro, receptivo, cortês!

Rio Vermelho, nosso orgulho, nosso amor, mais uma vez!

Povo de Rio Vermelho! Um poema à Praça da Matriz

... um poema é muito pouco

Pra tanto amor, talvez

Que nos encha os olhos o brilho desse povo

Que nos ilumine o coração a coragem de todos vocês!

Unidos pelo mesmo sentimento estejamos

Dispostos

Apostos

A comemorar mais uma vez!

Parabéns Rio Vermelho, da Nossa Senhora da Pena

Que dá nome à Praça, que abençoa as artes, que inspira poemas!

Parabéns terra linda

Meu berço, meu chão

O hino que aprendemos na escola levamos no coração.

Viva seu povo, suas festas, seus costumes, sua tradição!

Suas ruas estreitas, seus horizontes curvos, seus montes

Onde se enterrou o umbigo como um ritual pagão...

Onde sempre voltaremos cheios de saudade

A qualquer momento

Unidos pelo amor

Unidos por um só sentimento

 

 

Hyeda de Miranda Campos

22-01-2023

21h

 


domingo, 25 de dezembro de 2022

Costas


 

COSTAS


Virar as costas 

Virar-se de frente para a vida

Para o futuro e para a estrada.


Nada vejo senão costas

Que virarão saudade

E não carregarão peso.


Abraço pelas costas

As costas

Nas costas...

Solidão em todas as respostas...


Queria dar ao romantismo as costas

Às costas para os sonhos juvenis

Sonhos de um encontro 

Frente a frente

Para o irreconhecível 

Modificado 

Reconstruído

Que mesmo de volta

Não voltará mais!


O tempo nos reconstruiu

De costas...

O tempo 

Nos pesa as costas...

Sem perguntar

Nega respostas.


11-08- 2022

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

PAULO & LILI (Poema de rotinas)

 PAULO  & LILI

(Poema de rotinas)



Lili vive entre as montanhas

Anda na mata

Conhece as flores

Adora as nuvens


Lili sobe em árvores

Come frutas

Ouve o canto dos pássaros

E toma banho de cachoeira


Lili vê TV

Conecta-se com o mundo

E tem seus sonhos.


Paulo vive longe

Na oitava cidade mais populosa do planeta

Trabalha

Conecta-se com o mundo

E tem planos.


Lili viu o mar pela TV 

Se encantou

E não conseguiu imaginar sua proporção…


Paulo não gosta das praias brasileiras

Consulta sempre a agência de turismo:

Quer ver o mar do Caribe

E os corais da Austrália


Um dia a poesia estava passando pela tela

Harmonizada com o Deus do impossível

E viu uma concha…


Poetas não gostam de conchas… vazias…

Inspiram luto em vez de poesia.


Assim, escrevendo na areia

Encomendou uma pérola para Lili

Do fundo do mar.


É a poesia 

Que abre as conchas ao grão de areia

Para que nasça a pérola


Assim

Além dos sonhos

Lili pisou a areia escrita 

Antes do primeiro mergulho.


Lili viajou de trem, de avião e de navio.

Lili mergulhou no mar do caribe

Que nem sonhara.


Hoje Paulo e Lili

Fundem planos e sonhos

Enquanto viajam o mundo

Espalhando poesia.


Ainda é cedo para escolher um nome

Ao futuro que eleva o ventre de Lili

Mas pode-se esperar

Que ande na mata

Conheça o fundo do mar 

Se encante com o universo

Acredite no Deus do impossível

Estude sobre dinossauros e baleias

E planeje viagens interplanetárias.



(Hyeda de Miranda Campos - 30-11-2022)

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

GÊNESE

 

Gênese

 

No princípio: o sentimento.

E era tanta a sensibilidade que parecia loucura

Os olhos da poesia viam além da realidade.

E com a pena de suas próprias asas traçou seu plano de voo.

Voou com as gaivotas, com as águias e com os anjos.

As gaivotas tinham ninhos, águias tinham ambições...

E os anjos se revezavam em poesias e canções.

E lá se vai o tempo em algumas décadas

A cada dia, uma poesia, para a história e a biografia...

O sonho da graduação, da Academia!

Quantos caminhos, degraus e pessoas fazem parte.

Um grande Mestre, uma obra de arte.

Ser poeta é coisa medonha!

O mundo é palco, o esforço é luz

Deus é quem dirige, inspira, sustenta

ELE cerra as cortinas!

A poesia recomeça, renasce, cresce...

Poesia também suicida e morre...

O leitor é vento

Ora por entre as asas

Outrora contra a pequena chama...

Minha poesia mais bonita veio em forma de criança!

Cresceu.

A lição de amor que Deus me escreveu.

Eu leio e releio com olhos poéticos...

No princípio: o sentimento.

E era tanta a sensibilidade que parecia loucura.

 

(Hyeda de Miranda Campos)

 

Hyeda de Miranda Campos, nascida em 18 de julho de 1974.

Autora de nove trabalhos solo em poesia, prosa, conto e novela.

Estudante de Jornalismo, autora, performer e Produtora Cultural gerencia o projeto POESIA AOS QUATRO CANTOS e a grife artística e Espaço Cultural Mir@nde-se

No prelo sua Tetralogia Poética que celebrará seus 30 anos de carreira em 2023.

Sócio correspondente da Academia Corintiana de Letras , Membro Vitalício da AILAP e sócio fundadora da Academia Riovermelhense de Letras e Artes.