quarta-feira, 22 de abril de 2015

NORTE- SUL



NORTE –SUL


(Ventania)

Então era a gaveta
O ponto final dos sonhos
Onde todos os poemas morriam
Onde as tintas perdiam as cores
E as canções não achavam saídas.

O coração na gaveta
O luto estendido ao céu
Algemas na alma
Caneta e papel
Cinzas na arte, cinzel...

Que seja preciso esculpir com sangue
Injetar na tela o fôlego de vida
Extrair da pedra a pétala
Do gelo a semente
Do veneno o antídoto
E na escuridão encontrar a chave.

Todos os caminhos margeiam a morte
A onda morre na praia
O vento segue para o norte
Escrever na areia é utopia
Devaneio a tal linha do horizonte
Enterradas com os livros
As entrelinhas da sorte.

A noite a lua
No escuro a poesia
A areia limitando a onda
Que calma retorna à melancolia
Sereia sem canto, concha vazia
O fim da lenda...

Ventania!!!

Elevou-se às alturas a maré
Com destroços da moldura
Do limite
Da gaveta
Da linha do medo
Do segredo
Da areia fora da ampulheta.

Na ventania
Asas além da pintura
Notas em uma nova partitura
Arco íris na paleta
Artistas livres em euforia
Fizeram a obra dos sonhos
Em cores, canções e letras.

(CAMPOS, Hyeda de Miranda - quarta-feira, 22 de abril de 2015)





sábado, 18 de abril de 2015

Carta de amor

Este é um poema ao passado
Que depois de lido será apagado
Por tê-lo vivido
Ou tê-lo sonhado.

Becos de pouca luz e muitas vozes
Música boêmia na calçada de pedra
Arbustos e janelas
Amantes e donzelas

Na porta as rosas deixadas
De outros jardins roubadas
Repetem diante do dia
Os sonhos da madrugada

O poeta ama as estrelas
Sai ao encontro da noite a se inspirar
Domina o encanto das sereias
Sem conhecer o mar

O poeta ama a lua
Teme São Jorge e o Dragão
Louco a vagar pelas ruas
Poesia não é profissão!

Sua poesia faz lembrar a praça
A lua cheia, o chafariz
A  moeda para a fonte dos desejos
Desejo único de ser feliz!

A ampulheta na escrivaninha
Esculpindo em sua areia
Os castelos de sonhos do passado

A rosa ressecada marcando o álbum de fotografia
Um dia escondida sob o travesseiro
Com suspiros de melancolia

Todo o passado em luar e notas musicais
Toda uma vida de emoções e poesia
Todos os sonhos aqui relembrados
Nessa carta de amor a luz do dia!