domingo, 20 de outubro de 2013

MURALHA

“Hoje eu desejo que as arvores durem mais
Porque aprendi o valor de um ninho”
(E queria ser a maior delas para te abrigar)
Mas eu sou muralha.
E quando você se recosta cansado
Não te envolvo.
Quando você me pede para seguir
Eu continuo edificada aqui no nada.
Como pode um amor assim?
Se a luz da vida projeta sua sombra sobre mim...
Abri então suas grandes asas e voai
Voai em sua infinita solidão
Escondei-me nas suas sombras
Acreditai que nosso amor foi colisão
Simplesmente olhai do céu para mim
Olhai e vede que uma estrutura assim
Sem semente nem raiz
Decompõe-se em canção
Pouse sobre mim agora
Cante
Ame
Durma
Antes que se vá mais uma estação
Antes que os pássaros fiquem quietos
E as folhas se lancem ao chão
Pouse sobre mim agora
Cante
Ame
Durma
Acaricie-me com suas doces asas
De um anjo em descanso após a batalha
Dá-me de seu sangue, de seu calor.
Voai depois em pensamento
Levai nas asas que cantam
E ao vento veloz espalha
Um frio poema de amor
Escrito em uma muralha.



LOVE SONG

Músico...
quando o silêncio devorador avançou por todos os espaços
pegou suas partituras e se pôs a produzir mágicos sons.
Músico...
que quando sentiu necessidade de salvar seu divino habitat do desastre da mudez foi à fonte das águas mágicas da música e bebeu sua doce essência.
Somadas aos seus mais profundos sentimentos essas gotas se tornaram canções e se espalharam como chuva fecunda entre nós.


Dá-me de beber e banhar
De afogar, mas nunca calar
De ensurdecer, enlouquecer,
Devanear
Chova torrentes
Ecoe tempestades
Ventania e notas musicais
Cantai pro meu silencio
Velai por meu poema mudo
E algum dia dançai comigo
Envolvei meu corpo no teu corpo abrigo
E me enterrai sonoramente
No teu peito, meu coração partido

Acolhida



Vinde oh Arte! 
Vinde a mim!

Vinde assim faminta como o vendaval!
Nao vinde branda, pois o banquete que te preparo sacia e devasta!
Sente-se a mesa, coberta de vãs lamentações
E sirva-se fartamente do que mais te alimenta:
Meus distúrbios e minhas emoções!
Brindai ainda as derrotas pelas quais chorei rios de lágrimas
e todas correntes... passaram.

E caso sobrevivas, celebre!

Porque a poesia prevalece e o amor ressurge quando profundamente enterrado.

SEGREDOS


SEGREDOS SÃO MEDOS
AQUILO QUE VOCE NUNCA DIZ
NUNCA DEIXA QUE SEJAM DESCOBERTOS.

SEU MEDO NÃO É NENHUM SEGREDO
SEU MEDO É QUE SAIBAM DO SEU MEDO
É QUE CONHEÇAM VOCE
QUE CONHEÇAM SEU SEGREDO.

É VOCE
SEU MEDO
E SEU SEGREDO.

II
MEU MEDO É NAO DIZER AGORA DO AMOR QUE TENHO
AINDA QUE NAO SEJA FORTE O SUFICIENTE PARA MUDAR O MUNDO
INQUIETA-ME E ME TRANSFORMA A CADA SEGUNDO

MEU MEDO É VER A VIDA PASSANDO SEM QUE EU POSSA TOCAR MEU DESEJO,
SEM QUE EU POSSA PROVAR, NUM BEIJO, O VALOR QUE A VIDA TEM.

DIGO E REPITO PARA QUE NAO SEJA MAIS SEGREDO
QUE HOJE E PARA SEMPRE
EM TODOS OS MEUS DIAS
VIVO E VIVEREI SEM MEDO E POR ESTE AMOR
TEMO E MORRO AO VER O PASSAR DOS DIAS
UMA INFINIDADE DELES:
CERTOS
ERRADOS
VIVIDOS
PASSADOS...
DIAS QUE SEM VOCE NAO TËM VALOR.


Galaxias



Esse olhar no espelho

De menina traquina
Olhar travesso
Esse doce sorriso em creme dental...
Ah! Eu já conheço!
Apressadamente se joga na noite
E em sua mesa constrói
Castelos de papel
Edifica poemas
Abre portais
Redesenha o céu

E vejo vir cometas
Lindas estrelas cadentes
Encantos diversos
De versos incandescentes

Poesia estelar
Intergalactica
Lunar
Poesia para o infinito
Infinito amor
Calor solar
Tudo em um só coração
Cosmos de emoção

E te deixo assim
Flutuante, viajante
Até que o sono te transporte...

Adormecida
Acolho você, minha vida
Envolvida em braços fortes

Seu perfume de quem ama
Se espalha em nossa cama
Poesia em frente e verso
E não há dimensão que comporte
Um simples explorador sem norte
Desejando todo seu universo.

Ciclos


Um ciclo aberto
Te priva da glória
Fechai-o pois.

Quando diante de todos
Ergueres tua taça de cristal
Para celebrar a vitória

Venenosas pupilas
Espelho dos olhos arregalados
Que revelam além de toda maquiagem
O véu da alma
Ainda imerso no esgoto do passado.



CAMPOS,Hyeda de Miranda
16 de setembro de 2013

Personagem perdida - Além do vento

Era uma família comum de encantadores.
Como toda família, os mais velhos eram mais sábios, e aos jovens pertencia o espírito de ousadia.
Eram fenomenais!
Pois todos os seres nascidos ali eram encantados.
Mas havia diferença entre um e outro encantamento.
Uma personagem que saíra das margens das histórias e descobrira as releituras dos livros mágicos.
Viveu breves anos de sonhos e fantasias.
Desprezou o encanto, saqueou os príncipes e desapareceu.
Reinou entre os mendigos da noite, com suas cançöes errantes e tristes.
E quando o chumbo tornou-se ouro, ela preferiu suas asas de volta.
Porque suas conquistas eram fruto da dor. Embora reluzissem, jamais pagariam o exílio do seu coraçao.

Do livro MESTRIA DO OLHAR
Pág. 43