Que de tanto ser, inexisto.
De tanto subdividi-me, multiplico;
De tanto definir-me, me complico;
De tanto duvidar, certamente erro.
Porque parte de mim grita
Contra a que se cala;
Porque pouco de mim.
Ouve, em silêncio,
O que o restante fala.
Porque parte de mim
Parte e regressa a toda hora;
Porque em parte acolho
E em partes deixo ir embora.
Assim pouco de mim restante
Muito de mim mundo afora
Tudo de mim, sentimento...
Sentir e ser agora.
Porque em mim há dor e cura
Em mim, lucidez e loucura;
Em mim dias de sol,
Tardes de chuva,
Noites de lua;
Em mim jardins, cárceres, torres e ruas.
Tempestade de areia, brilho de pérolas...
Portões de aço,
Gotas de orvalho,
Brisa!
Em mim o que se deseja,
Impõe ao que se precisa.
A mão é dominadora,
A emoção, indecisa;
A alma alada e sonhadora;
A razão que avidamente se enraíza,
Alimenta a dissonância
Reproduz a harmonia
Decifra minha múltipla essência
Mutante a cada novo dia.
Porque para definir-me, existo;
Para transformar-me, questiono;
Para unificar-me, me divido
E por nada ser
Há em mim
De tudo.
Livro MESTRIA DO OLHAR
Litteris Editora - 2006
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