quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Pôr do sol em Cinzas

 


                                      Pôr do sol em Cinzas

 

Tarde de quinta-feira

Da mesma semana

Do esplendor do carnaval

E da dor das cinzas

Que sobre nossas cabeças

Altera as nossas rotas

 

Rota

Rotatividade

Rotação

 

Mais uma volta que o planeta completa

Em torno de si mesmo

Para nos dar o dia e a noite...

 

Outra vez visito o lugar silencioso

De vento fresco

Com seu portão transcendental

Por onde entram, muitos dos nossos, para ficar.

Lá repousam

Enquanto choramos...

E o vento nos sopra consolo

Enquanto mistura nossos cabelos em nossas lágrimas

E nos abriga em ombros diversos.

 

Como dói esse inevitável ritual!

O morro

O vento

A pouca grama

As flores

As velas que não se aguentam por um segundo!

 

Atrasei para o ritual de hoje

Levei meu abraço

Sem a agonia do canto de reza

Dessa vez...

 

E muitas outras cravadas na memória

Ainda doem...

 

Como o sol que se inclina para detrás das montanhas

Os corpos estão agora debaixo da terra

Haverá noite

E o sol voltará em poucas horas.

 

São muitas as metáforas

Dentre elas o intervalo de dez horas

Entre a notícia e o ritual...

Dez horas que temos para rever

A fragilidade da vida humana

Coberta de simbólica cinza

Voltando ao pó da terra.

 

Tempo para despir-se de si mesmo

De vestir a dor do outro

De ser um raio de sol que atravessa a nuvem

Cinza...

 

Cinza está o coração bondoso da minha amiga

Como o meu também esteve

E de outra também amiga que perdeu irmãos

Amiga que perdeu pai

Amigo que perdeu mãe...

Há cinza cada vez que me lembro das amigas

Que não desceram de lá

Para as quais o sol não mais se pôs, nem nasceu.

 

Mas a terra que recebe, segue

Gira e nos concede

Dias e noites

Para que vivamos bem

Todas as nossas horas.

Horas que passam:

Hora que chega!

 

 

 

 

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