domingo, 5 de fevereiro de 2023

ILHA


ILHA

No palco recitava poesia

Ninguém a entendia

- E se ela cantasse?

- Pior seria!

 

Gostava de música

Aos músicos amava

Com eles sonhava

E jamais mudaria.

 

Porque de sonhos

E somente de sonhos

Vivia

Porque não tendo sonhos

Tinha dor

 Dor de parto e poesia.

 

Mãe de todos os poemas...

Quem dera!

Era madrasta

Bruxa má! Rainha bela!

Que a todos dava a conhecer a fórmula

A rede que tecia seus versos e sonhos

Era de corda de violão

Que por assim ser

Era um fio na alma

Outro no coração.

 

Um dia, menina, queria ser estrela

Mas precisaria brilhar e subir ao céu

Então pulou da escada imaginária

Caiu feio e acordou lua.

 

Lua

Única, feminina e de fases.

De faixas, de escalas e de frases...

Lua que em silêncio morre.

Nem sequer se encanta

Com sua imagem no mar infinito.

 

O canto do mar

É para sereias e marujos

Não para a lua.


Uma noite

A lua deitou-se na areia da praia

Para se esconder

Sem notar que nascera ali

Um tapete de luz...

E eram tantas formas

Quantas as ondas costumavam exibir

E a lua gostou da areia

 

Ouviu pela primeira vez o som

Que o vento fazia enquanto as moldava

E numa casa não tão longe

Um canto

 

A lua fez-se mulher

Na sua fase de escuridão

Para ver de perto o homem

Dono da voz e da canção

 

No seu corpo o cheiro das montanhas

Que a lua desde sempre, amava.

Seus cabelos cacheados

Lembravam as sombras projetadas

Quando ela , brincando, atravessava as folhas.

O homem tinha o sorriso de luz

Vindo do sol que enchia seu coração.

 

A lua deitou-se do lado de fora

Enquanto ele adormeceu

Sem nenhum sonho.

 

Pelo quarto muitos tesouros

Partituras, cabos, fones...

E no centro, um violão!

Sim!

As cordas que tecem as redes dos sonhos

E que sempre encontram mãos

A mão que o pega pelo braço

E faz nascer à canção.

 

A lua sentiu-se tão bem quanto no céu

Ao ler poesia naquelas canções.

Deitou-se ali quietinha e sorriu:

A lua abriu seu coração!

 

Então o homem abriu os olhos

E as janelas

E acendeu a luz...

 

A lua não esteve mais lá!

Nem na casa

Nem na areia

Nem no mar...

 

O homem voltou para as montanhas

E a lua do céu espera ouvi-lo cantar

Porque seu canto é de uma estrela

E nunca vai se apagar!

 

A lua viaja sempre por toda terra

E ouve cantos

E se maravilha

Desce, caminha, sonha e se emociona

E a este chamou de ilha

Porque nele não há caminhos

Embora seja estrada

E o tempo nas curvas do seu corpo

Opera de forma controlada

Enquanto sonha, se refaz...

Mas não crê em quase nada.

 

Não crê em sonhos

Não crê na lua

Não crê em histórias

Nem contos de fadas.

 

Não crê na poesia

Não fala com estranhos

Não mergulha na fonte

Nem bebe dessa água.

 

Seus desejos, nem a lua sabe.

A ninguém quis revelar

Fez- se ilha

Silenciosa

De um lado rio

Do outro, mar

No centro, ceticismo...

Medo de amar!

 

 

 

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