ILHA
No palco recitava poesia
Ninguém a entendia
- E se ela cantasse?
- Pior seria!
Gostava de música
Aos músicos amava
Com eles sonhava
E jamais mudaria.
Porque de sonhos
E somente de sonhos
Vivia
Porque não tendo sonhos
Tinha dor
Dor de parto e poesia.
Mãe de todos os poemas...
Quem dera!
Era madrasta
Bruxa má! Rainha bela!
Que a todos dava a conhecer a fórmula
A rede que tecia seus versos e sonhos
Era de corda de violão
Que por assim ser
Era um fio na alma
Outro no coração.
Um dia, menina, queria ser estrela
Mas precisaria brilhar e subir ao céu
Então pulou da escada imaginária
Caiu feio e acordou lua.
Lua
Única, feminina e de fases.
De faixas, de escalas e de frases...
Lua que em silêncio morre.
Nem sequer se encanta
Com sua imagem no mar infinito.
O canto do mar
É para sereias e marujos
Não para a lua.
Uma noite
A lua deitou-se na areia da praia
Para se esconder
Sem notar que nascera ali
Um tapete de luz...
E eram tantas formas
Quantas as ondas costumavam exibir
E a lua gostou da areia
Ouviu pela primeira vez o som
Que o vento fazia enquanto as moldava
E numa casa não tão longe
Um canto
A lua fez-se mulher
Na sua fase de escuridão
Para ver de perto o homem
Dono da voz e da canção
No seu corpo o cheiro das montanhas
Que a lua desde sempre, amava.
Seus cabelos cacheados
Lembravam as sombras projetadas
Quando ela , brincando, atravessava as
folhas.
O homem tinha o sorriso de luz
Vindo do sol que enchia seu coração.
A lua deitou-se do lado de fora
Enquanto ele adormeceu
Sem nenhum sonho.
Pelo quarto muitos tesouros
Partituras, cabos, fones...
E no centro, um violão!
Sim!
As cordas que tecem as redes dos
sonhos
E que sempre encontram mãos
A mão que o pega pelo braço
E faz nascer à canção.
A lua sentiu-se tão bem quanto no céu
Ao ler poesia naquelas canções.
Deitou-se ali quietinha e sorriu:
A lua abriu seu coração!
Então o homem abriu os olhos
E as janelas
E acendeu a luz...
A lua não esteve mais lá!
Nem na casa
Nem na areia
Nem no mar...
O homem voltou para as montanhas
E a lua do céu espera ouvi-lo cantar
Porque seu canto é de uma estrela
E nunca vai se apagar!
A lua viaja sempre por toda terra
E ouve cantos
E se maravilha
Desce, caminha, sonha e se emociona
E a este chamou de ilha
Porque nele não há caminhos
Embora seja estrada
E o tempo nas curvas do seu corpo
Opera de forma controlada
Enquanto sonha, se refaz...
Mas não crê em quase nada.
Não crê em sonhos
Não crê na lua
Não crê em histórias
Nem contos de fadas.
Não crê na poesia
Não fala com estranhos
Não mergulha na fonte
Nem bebe dessa água.
Seus desejos, nem a lua sabe.
A ninguém quis revelar
Fez- se ilha
Silenciosa
De um lado rio
Do outro, mar
No centro, ceticismo...
Medo de amar!
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